terça-feira, 8 de junho de 2004

Hoje enquanto caminhava
Pela rua agitada de pessoas,
E distraido olhava
Para a gente que passava
Vi um homem que não conheço.
Esse tal homem, cabisbaixo
Dizia apenas isto
“Eu não mereço...!”

Fiquei admirado com o homem,
Estranho, de olhar muito carregado,
Bem se ve que lhe falta algo.
Por certo é mal de amores o que ele tem.

Quase ao chegar à esquina
Outro homem,
Me prende a atençao.
Este caminha para mim,
Passa a rua e ao olhar,
Vejo nele um vazio sem fim.

Passou ja o pobre homem.
E la vem outro, tao estranho!
Este anda para a frente,
De repente para tras!

Com certeza é maluco.
Se andar para tras e para a frente
Lhe é completamente indiferente
Devo estar na presença de um louco!

Chegando à esquina desta Rua
Um monte de pessoas todo junto
Fixam um senhor ali deitado
Que mira o infinito,
Enfim, o Mundo.

Que dia tao estranho
Que hoje vivo!
Tudo parece doente,
insano,
Demente,
Quase inerte.
Todos os que vejo
Meio-mortos,
Meio-vivos.

Mas nenhum vivo por inteiro.

Contorno a esquina desta Rua
E páro quieto, imovel,
Surdo e mudo!

Contemplo todos os homens
Por quem passei.
E ainda mais alguns
Que não lembrei.

Toma-me o panico e a surpresa!

Todos aqueles homens fundem-se num!

Meu Deus!
Todos aqueles homens sou eu!


XanaeR in "os dias do desassossego - volume II", porto, 2004

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